sábado, 24 de outubro de 2015

A NOVA VERSÃO DE CANAVIAL DE PAIXÕES , ABISMO DE PAIXÃO

Uma inesperada vaga fez a produtora Angelli Nesma migrar para o horário mais concorrido da TV mexicana. Para não fazer feio às 21h, ela não quis errar, e recorreu ao remake de um grande sucesso dos anos 90, e assim, Abismo de Pasión reergueu a audiência naquela faixa.
Na trama, que se passa em “La Ermita”, Carmina vive com a irmã Estefanía (Ludwika Paleta) e o cunhado Augusto Castañón (Alejandro Camacho), por quem é apaixonada. Como não pode tê-lo, vira amante do rico Rosendo Arango (César Évora), casado com Alfonsina (Blanca Guerra), mulher ciumenta e insegura. Estefanía descobre o romance e tenta impedir que os dois fujam juntos, mas ela e Rosendo morrem em um acidente de carro. A raiz disso, toda cidade pensa que os dois é que eram amantes. Essa dúvida é alimentada por Carmina, que consegue casar com o cunhado. O fato torna as duas famílias inimigas, e faz a amizade dos filhos dos casais se romperem. Anos depois, Elisa Castañón (Angelique Boyer) sofre com o desprezo do pai Augusto, casado com a tia, que alimenta no marido a dúvida sobre a paternidade de Elisa. Sua vida muda com o regresso de Damián Arango (David Zepeda), e a amizade infantil se torna um profundo amor. Mesmo com muitos obstáculos: a oposição das famílias, e o sentimento sincero do jovem Gael (Mark Tacher) por Elisa.
 A princípio, o projeto era para o horário das 19h, e alguns atores já estavam pré-escalados. Os protagonistas Ariadne Díaz e Sebastián Zurita, e Alexis Ayala como Augusto. Com o fracasso e encurtamento de Dos Hogares (2011), o projeto cresceu e foi enviado para às 21h. Assim, Alexis Ayala seguiu na novela, mas em outro personagem. Ariadne Díaz foi substituída por Angelique Boyer. Sebastián Zurita foi retirado da novela por influência do produtor José Alberto Castro, que na época, mantinha uma relação com Angelique e tinha ciúme por Sebastián ser o ex dela.
A história original era de Caridad Bravo Adams, que na adaptação de José Cuauhtémoc Blanco y María del Carmen Peña ganhou contornos próprios e se transformou em Cañaveral de Pasiones, o grande sucesso de 1996. As tramas desses autores possuem características específicas e são facilmente identificáveis – mesmo quando nascem de originais de outros autores. E o sucesso de Soy Tu Dueña (2010), onde Kary Fajer tomou a adaptação desses autores para La Dueña (1995) para praticamente reproduzir com um mínimo de alterações impulsionou que também se produziria um remake de Cañaveral de Pasiones. A adaptação de Abismo de Pasión correu a cargo de Juan Carlos Alcalá e fuzilou a adaptação de 1996, com adaptações mínimas. O suficiente para transformar 96 capítulos em 161.
 O que se viu foi uma novela vigorosa, e que teve fôlego, mesmo com a história tão presente na cabeça do público. Isso deflagrou dois pontos antagônicos sobre esse tipo de adaptação: as tramas desses autores fazem sucesso, mesmo repetidas vezes e é até curioso quando se clama tanto por originais, surgem remakes quase sem alterações e ainda sim vão bem. Por outro, o ritmo de 2012 já mostrou que uma primeira fase tão longa quanto à de Cañaveral de Pasiones já não prende tanto o telespectador. Tanto que a novela de fato incrementou sua audiência a partir da segunda fase. Alguns erros acontecem quando se estabelece uma primeira fase longa: os protagonistas eram as crianças, e o público tem pressa de ver a história já do ponto onde ela realmente importa. Pra que 12 capítulos para explicar os antecedentes?
Com a espinha dorsal praticamente intacta, estavam lá todos os elementos que prenderam novamente a atenção do telespectador: o amor impossível entre os protagonistas, as famílias inimigas, os melhores amigos apaixonados, o vilão astuto e manipulador, os padrinhos bonzinhos, e as inúmeras mortes ao longo do caminho. Os principais pontos de interesse da trama era o núcleo da amizade das quatro crianças, balançada pelas disputas amorosas da fase adulta, e as complicadas relações entre Augusto e sua filha Elisa, sempre envenenada pelas intrigas de Carmina. A mudança mais profunda foi aumentar a participação do personagem Augusto, talvez como manobra para que Alejandro Camacho aceitasse o papel. O papel por si só já era importante, mas aqui sua participação aumentou e lhe foi acrescida uma parte inédita, com uma novidade: a jovem e sedutora Kenia (Esmeralda Pimentel) se envolvia com Augusto, além de ser meia-irmã de Gael e filha de Ingrid (Issabela Camil), a ex-amante de Rosendo. Kenia era uma personagem interessante, porque transitava entre vilã e boazinha. Um acerto da adaptação, já que o romance dela com Augusto fez sucesso e movimentou a novela. Um erro porque a personagem foi assassinada (por cumprir sua função na novela, não devido a fatores externos), e a personagem podia ter rendido mais. O verdadeiro motivo da saída de Kenia foi o medo de alterar demais a história original e gerar efeitos colaterais irreversíveis. A ideia dessa adaptação era apostar pelo certo.

 Angelli Nesma fez aqui uma de suas melhores produções no quesito técnico. A parte de um excelente elenco de astros, misturando revelações e atores consagrados, cenários muito bem acabados, inúmeras externas, etc. Também merece destaque a fotografia da primeira fase da novela, e a iluminação (aqui, diferente de muitas novelas, dia e noite eram diferenciados pros iluminadores). O tema musical – Solo un Suspiro – fez muito sucesso, interpretado pelos finalistas do programa La Voz México (o The Voice local): Óscar Cruz e Alejandra Orozco.
Abismo de Pasión colocou Angelli Nesma com louvor no horário das 21h. Mais do que uma novela com qualidade, foi uma novela entretida, muito movimentada, e que por isso, alcançou o sucesso em tempos turbulentos.

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