Uma inesperada vaga fez a produtora Angelli Nesma migrar para o
horário mais concorrido da TV mexicana. Para não fazer feio às 21h, ela
não quis errar, e recorreu ao remake de um grande sucesso dos anos 90, e
assim, Abismo de Pasión reergueu a audiência naquela faixa.
Na trama, que se passa em “La Ermita”, Carmina vive com a irmã
Estefanía (Ludwika Paleta) e o cunhado Augusto Castañón (Alejandro
Camacho), por quem é apaixonada. Como não pode tê-lo, vira amante do
rico Rosendo Arango (César Évora), casado com Alfonsina (Blanca Guerra),
mulher ciumenta e insegura. Estefanía descobre o romance e tenta
impedir que os dois fujam juntos, mas ela e Rosendo morrem em um
acidente de carro. A raiz disso, toda cidade pensa que os dois é que
eram amantes. Essa dúvida é alimentada por Carmina, que consegue casar
com o cunhado. O fato torna as duas famílias inimigas, e faz a amizade
dos filhos dos casais se romperem. Anos depois, Elisa Castañón
(Angelique Boyer) sofre com o desprezo do pai Augusto, casado com a tia,
que alimenta no marido a dúvida sobre a paternidade de Elisa. Sua vida
muda com o regresso de Damián Arango (David Zepeda), e a amizade
infantil se torna um profundo amor. Mesmo com muitos obstáculos: a
oposição das famílias, e o sentimento sincero do jovem Gael (Mark
Tacher) por Elisa.
A princípio, o projeto era para o horário das 19h, e alguns atores já
estavam pré-escalados. Os protagonistas Ariadne Díaz e Sebastián
Zurita, e Alexis Ayala como Augusto. Com o fracasso e encurtamento de Dos Hogares (2011),
o projeto cresceu e foi enviado para às 21h. Assim, Alexis Ayala seguiu
na novela, mas em outro personagem. Ariadne Díaz foi substituída por
Angelique Boyer. Sebastián Zurita foi retirado da novela por influência
do produtor José Alberto Castro, que na época, mantinha uma relação com
Angelique e tinha ciúme por Sebastián ser o ex dela.
A história original era de Caridad Bravo Adams, que na adaptação de
José Cuauhtémoc Blanco y María del Carmen Peña ganhou contornos próprios
e se transformou em Cañaveral de Pasiones, o grande sucesso de
1996. As tramas desses autores possuem características específicas e
são facilmente identificáveis – mesmo quando nascem de originais de
outros autores. E o sucesso de Soy Tu Dueña (2010), onde Kary Fajer tomou a adaptação desses autores para La Dueña (1995) para praticamente reproduzir com um mínimo de alterações impulsionou que também se produziria um remake de Cañaveral de Pasiones. A adaptação de Abismo de Pasión correu
a cargo de Juan Carlos Alcalá e fuzilou a adaptação de 1996, com
adaptações mínimas. O suficiente para transformar 96 capítulos em 161.
O que se viu foi uma novela vigorosa, e que teve fôlego, mesmo com a
história tão presente na cabeça do público. Isso deflagrou dois pontos
antagônicos sobre esse tipo de adaptação: as tramas desses autores fazem
sucesso, mesmo repetidas vezes e é até curioso quando se clama tanto
por originais, surgem remakes quase sem alterações e ainda sim vão bem.
Por outro, o ritmo de 2012 já mostrou que uma primeira fase tão longa
quanto à de Cañaveral de Pasiones já não prende tanto o
telespectador. Tanto que a novela de fato incrementou sua audiência a
partir da segunda fase. Alguns erros acontecem quando se estabelece uma
primeira fase longa: os protagonistas eram as crianças, e o público tem
pressa de ver a história já do ponto onde ela realmente importa. Pra que
12 capítulos para explicar os antecedentes?
Com a espinha dorsal praticamente intacta, estavam lá todos os
elementos que prenderam novamente a atenção do telespectador: o amor
impossível entre os protagonistas, as famílias inimigas, os melhores
amigos apaixonados, o vilão astuto e manipulador, os padrinhos
bonzinhos, e as inúmeras mortes ao longo do caminho. Os principais
pontos de interesse da trama era o núcleo da amizade das quatro
crianças, balançada pelas disputas amorosas da fase adulta, e as
complicadas relações entre Augusto e sua filha Elisa, sempre envenenada
pelas intrigas de Carmina. A mudança mais profunda foi aumentar a
participação do personagem Augusto, talvez como manobra para que
Alejandro Camacho aceitasse o papel. O papel por si só já era
importante, mas aqui sua participação aumentou e lhe foi acrescida uma
parte inédita, com uma novidade: a jovem e sedutora Kenia (Esmeralda
Pimentel) se envolvia com Augusto, além de ser meia-irmã de Gael e filha
de Ingrid (Issabela Camil), a ex-amante de Rosendo. Kenia era uma
personagem interessante, porque transitava entre vilã e boazinha. Um
acerto da adaptação, já que o romance dela com Augusto fez sucesso e
movimentou a novela. Um erro porque a personagem foi assassinada (por
cumprir sua função na novela, não devido a fatores externos), e a
personagem podia ter rendido mais. O verdadeiro motivo da saída de Kenia
foi o medo de alterar demais a história original e gerar efeitos
colaterais irreversíveis. A ideia dessa adaptação era apostar pelo
certo.
Angelli Nesma fez aqui uma de suas melhores produções no quesito
técnico. A parte de um excelente elenco de astros, misturando revelações
e atores consagrados, cenários muito bem acabados, inúmeras externas,
etc. Também merece destaque a fotografia da primeira fase da novela, e a
iluminação (aqui, diferente de muitas novelas, dia e noite eram
diferenciados pros iluminadores). O tema musical – Solo un Suspiro – fez muito sucesso, interpretado pelos finalistas do programa La Voz México (o The Voice local): Óscar Cruz e Alejandra Orozco.
Abismo de Pasión colocou Angelli Nesma com louvor no horário
das 21h. Mais do que uma novela com qualidade, foi uma novela
entretida, muito movimentada, e que por isso, alcançou o sucesso em
tempos turbulentos.
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